Terça-feira, 23 de Outubro de 2007
Assisti ontem no programa "Prós e Contras" ao Diagnóstico da Pobreza em Portugal. Que dado ter trabalhado dezenas de anos na área, me interessou muito.Aliás, coordenei e supervisionei vários Projectos de Luta contra a Pobreza.
Dos quatro interventores principais o único que desconheço é o sociólogo, porque Bruto da Costa, Edmundo Martinho e Eugénio Fonseca são pessoas que conheço desde longos anos. E no público reconheci colegas com que trabalhei lado a lado.
Mais uma vez, toda a intervenção de Alfredo Bruto da Costa foi brilhante, baseada numa excelente argumentação e com a coragem suficiente para denunciar a natureza maléfica deste sistema de mundialização selvagem que precipita nos vários graus do abismo da pobreza quem é atirado para a exclusão, seja por que motivo for.
E é muito fácil chegar à exclusão. Como dizia um colega que conheci na minha recente viagem aos Açores: " Chega-se muito depressa à rua.Eu conheço alguém que tinha uma boa posição e se tornou um sem-abrigo ... com aviso prévio !".
Não me quero alogar mais por agora. Por isso, vos deixo para reflexão uma das mais lúcidas e corajosas denúncias de todos os tempos e que tive a felicidade de ouvir cantada ao vivo, em Setúbal, pela voz única do seu criador : José Afons
OS VAMPIROS
No céu cinzento
Sob o astro mudo
Batendo as asas
Pela noite calada
Vêm em bandos
Com pés de veludo
Chupar o sangue
Fresco da manada
Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada
A toda a parte
Chegam os vampiros
Poisam nos prédios
Poisam nas calçadas
Trazem no ventre
Despojos antigos
Mas nada os prende
às vidas acabadas
São os mordomos
Do Universo todo
Senhores à força
Mandadores sem lei
Enchem as tulhas
Bebem vinho novo
Dançam a ronda
No pinhal do rei
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada
No chão do medo
Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos
Na noite abafada
Jazem nos fossos
Vítimas dum credo
E não se esgota
O sangue da manada
Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada.
Assim se explica o inaudito, isto é, que o rendimento de quinhentas das pessoas mais ricas do planeta seja igual ao de quatrocentos e dezasseis milhões de pessoas pobres !!!!
E ainda há idiotas a pensar que a História chegou ao fim?!
sinto-me: ULTRAJADA!!!
música/livro: "OS VAMPIROS" - ZECA AFONSO
De
Clarice a 23 de Outubro de 2007 às 23:05
Pois, Conceição, enquanto ficam a discutir se os contam, eles diminuem...morrem.
Esses pensameentos me assaltam quando vejo tanto dinheiro dedicado à pesquisa espacial.Quem quer morar em Marte? Enquanto issso crianças e adultos morrem à mingua.
Ah, eu já nem sei mais se cabe tristeza em meu coração.
A propósito de lhe terem negado acesso ao voluntariado por ter passado dos 55, menina, procure quem os queira, com essa vivência, essa experiência e essa generosidade tão explícita em você, que ela acolhida terá .
Abraços.
De
São Banza a 24 de Outubro de 2007 às 11:28
Estou procurando, sim. E talvez estes meus escritos (e os comentários que pessoas como você fazem o favor de colocar ) sejam também uma forma de ajuda!
Venha sempre.
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